QUEM NÃO CONHECE AS SUAS ORIGENS, NÃO CONSTROI A SUA IDENTIDADE
No início do século XIX, a então próspera Great Harwood (terra natal de Henry Gibson), assim como toda a Inglaterra, sofreu uma forte recessão devido as Guerras Napoleônicas. Somado a isto, o surgimento de modernas indústrias inviabilizou os teares manuais responsáveis pela economia da cidade.
O pique desta recessão ocorreu de 1818 a 1826, quando 260 famílias, que representavam mais de 2/3 das famílias da cidade, foram registradas como necessitadas de ajuda por parte do poder público para sobreviverem. Imaginem então o tamanho da tragédia.
Naquele tempo existia uma seção/comitê das Prefeituras, denominada “Supervisores dos Pobres”, que avaliava os pedidos de ajuda. O Bolsa Família da época. Caso a família fosse oriunda de outra vila ou cidade, eles não teriam ajuda e seriam orientados a voltar para sua localidade de origem. Ou seja, literalmente eram expulsos da cidade.
Essa crise atingiu John Gibson, avô de nosso Henry, que era viúvo de Alice Baron e tinha dois filhos menores sobre sua responsabilidade, Henry e Cuthbert (esse terminou falecendo com 8 anos de idade). Ao contrário do usual na época, John não casou novamente. Em situação de risco e como John tinha nascido em Clayton-le-Moors, vila pertencente a Altham, recebeu a ordem de deixar GTH.
Não sabemos se essa remoção foi efetivada, já que os “Supervisores dos Pobres” podem ter expedido a ordem apenas como medida de precaução, como recomendação, ou talvez Altham tenha contestado a validade da mesma. Ou seja, não o tenha aceito. De qualquer forma John residiu em Accrington (GTH) até o final de seus dias e foi sepultado em Great Harwood, cidade que certamente ele considerava como sua.
Apesar destas adversidades Henry, seu filho, conseguiu ser “book-keeper” (contador) o que significa que ele teve uma formação diferenciada para a época/lugar. Esse foi casado em segunda núpcias com Mary Howarth e teve quatro filhos, entre eles o nosso avô Henry.
Já adulto, novamente Henry foi atingido por uma crise econômica e teve a falência decretada. Fechou sua indústria de estamparia em algodão e voltou para sua profissão de contador. Durante muito tempo teve que pagar dívidas da sua
Empresa. Foi quando seu filho, também chamado Henry, inspirado e orientado por seu tio materno Adam Haworth, resolveu migrar para o Brasil.
Mary Howarth, mãe de nosso avô, era filha de um mestre escola. Seu pai era o proprietário do único educandário particular de GTH e com certeza nosso avô Henry recebeu por parte do avô materno, uma instrução diferenciada, o que permitiu administrar bem suas empresas em Pernambuco, para onde ele veio aos 20 anos de idade.
Agradeço ao Bob Calvert, historiador de Great Harwood, por resgatar não só a história de John Gibson e os documentos que a comprovam, como a dos demais Gibson ingleses.
A história de John lembra-me a de meu avô paterno, Arnaldo Gibson. Proprietário de dois cinemas em Recife, foi a falência. Para agravar, ficou viúvo com seis filhos menores, sendo um deles, récem nascido. No pique de sua adversidade morou na periferia da cidade, na então denominada Rua da Lama. Apesar disso conseguiu formar três filhos: medico, engenheiro e advogado. Duas filhas foram funcionárias públicas e a outra foi professora e monja beneditina.
Papai nos cobrava estudo e costumava dizer que foi a instrução que os tirou da Rua da Lama. Mas que tivéssemos cuidado, porque a Rua da Lama nos queria de volta.
Como disse o Cazuza, a história se repete. Repetiu-se com Arnaldo Gibson e a própria história do John é repetida. Seu avô William Gibson, peleteiro, morreu com a idade de 35 anos, encarcerado em “Lancaster Castle” por causa de dívidas. Lancaster Castle, é um castelo que remonta ao século 13 e que só deixou de ser usado como prisão em 2011. Imaginem as condições dessa prisão.
Tecelão em Great Harwood