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Great Harwood

Berço de nossos avós

 

História

Sabe-se que o homem está presente na Região de Lancaster desde os tempos pré-históricos. Descobertas feitas remontam esta presença à Idade da Pedra. Não sabemos, porém, se aquelas terras estavam sendo habitadas desde essa época ou se apenas eram usadas por caçadores. Em Great Harwood, um machado datado da Idade do Bronze foi descoberto em 1967. Nos arredores, artefatos de pedra e de ferro mostram a continuidade da presença humana durante os diversos períodos.

 

Os Romanos não tiveram grande importância ou mesmo presença em Great Harwood. Faltava, principalmente, acesso. Só começamos a ter registros documentais da Região após 1066, no início do Reinado de William II, Guilherme – o Conquistador.

 

Na época da conquista normanda Great Harwood era uma área de brejo, pântano, clareiras e terras cultivadas, com muitas nascentes e pequenos riachos, que desciam a encosta. Foi perto desses fluxos de água que as primeiras fazendas foram construídas. 

 

Em 1335, o Rei Eduardo III, pondo fim a uma disputa de terras, dividiu Great Harwood  em duas partes: a Cidade Alta, cujas terras representavam 2/3 do Município, ficaram pertencendo aos Heskeths, e a Cidade Baixa, propriedade dos Nowells. Situação que perdurou por cerca de 500 anos. 

 

A terra, a madeira, a caça, os minerais  – tudo enfim, pertencia a essas duas famílias. Todo o milho colhido no Distrito tinha que ser moído no moinho pertencente aos Heskeths (o Martholme Mill). O caminho que levava ao moinho, chamado Mill Lane, ainda existe. Os habitantes tinham direito a uma parte dos "campos da cidade", e tanto na cidade Alta quanto na Baixa, eles tinham direitos de pastagem. Também podiam colher madeira suficiente para as necessidades diárias, mas em troca, eles trabalhavam as terras dos senhorios e pagavam dízimos que também eram pago à Igreja.

 

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Residência dos Nowell, senhores das Terras Baixas de Great Harwood. Imagem de 1750

 

 

 

 

 

 

Apesar de ser uma comunidade isolada, Great Harwood foi afetada por mudanças que tiveram lugar em 1300. Por volta da metade do século  XIV, a Inglaterra foi atingida pela peste negra e embora não haja nada que demonstre que GTH tenha sido infectada, houve escassez de trabalhadores, afetando a maneira centenária que ditava a relação entre proprietários e servos em toda a Inglaterra. 

 

 

As pessoas queriam mais liberdade, mais independência, e exigiram o direito de cultivar sua própria terra. Apesar das terras de GTH não terem sido vendidas, elas começaram a ser arrendadas e os agricultores se tornaram inquilinos, meeiros, ao invés de servos.

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Residência dos Lomax -  grandes proprietários de terras em GTH

Nesta mesma época, em 1338, em reconhecimento aos serviços prestados na Escócia, o Rei Eduardo III concedeu a Adam Nowell, Senhor do Solar de Netherton, uma carta autorizativa para o funcionamento de um mercado e de uma feira em Great Harwood. Foi um grande passo no desenvolvimento da cidade. O Mercado ainda é um evento semanal, mas a última Feira – anual, foi realizada em 1931.

 

A importância dessa conquista para uma comunidade, está muito bem explicada no romance e filme “Os Pilares da Terra”, apesar de ser uma peça de ficção. O Mercado, que funcionava às quintas, era o local onde tanto os agricultores como os tecelões podiam comercializar seu produto. Por outro lado, a Feira e o Mercado também trouxeram libertinagem, bebedeiras e ladrões. Era o preço a ser pago.

 

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Great Harwood Market

 

 

 

 

 

 

Great Harwood ainda era, no entanto, uma pequena comunidade rural.  Em 1379 é criado um imposto que incidia sobre pessoas com mais de 14 anos de idade, homem e mulher contando-se como um. A cobrança abarcou apenas 29 pessoas na cidade. Tal fato gerou a chamada Revolta dos Camponeses, resultando na revogação do tributo.

Em meados do Século XV - de 1455 até 1485, o trono da Inglaterra foi disputado por meio de uma série de longas e intermitentes lutas dinásticas durante os reinados de Henrique VI, Eduardo IV e Ricardo III. Em campos opostos encontravam-se as casas de York e de Lancaster (inicialmente ocupando o trono da Inglaterra). Ambas as famílias descendiam de Eduardo III.  Foi a chamada ”Guerra das Duas Rosas” ou “A Guerra dos Primos”. O nome ”Guerra das Duas Rosas” deve-se aos símbolos usados pelas duas facções: uma rosa branca para a Casa de York e uma vermelha para a Casa de Lancaster.

 

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Rosa vermelha de Lancaster

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 A rosa dos Tudor, vermelha e branca

 

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Rosa branca de York

 

Após várias batalhas com consequentes mudanças no trono inglês, a Casa de Lancaster resolve apoiar as pretensões ao trono de Henrique Tudor, senhor de Richmond, mais tarde Henrique VII, que fugira ainda adolescente para a Bretanha. As disputas terminaram em 1485, quando Henrique desembarcou na Inglaterra com 5 mil homens e marchou para depor o rei. Os dois se encontraram em Bosworth. O exército dos York tinha 10 mil soldados, o dobro da armada adversária. Ricardo III (da Casa de York, então ocupando o trono) foi morto no campo de batalha. Apesar da disparidade, Henrique Tudor venceu a célebre batalha de Bosworth Field e foi coroado como Henrique VII.

 

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Richard III

 

 

 

 

Ricardo III foi imortalizado, como um tirano cruel, por Shakespeare e o esqueleto do monarca foi encontrado, por acaso, embaixo de um estacionamento em 2012, na cidade de Leicester.

 

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Edward IV

Nos primeiros anos de seu reinado, Henrique VII eliminou todos os seus rivais. Com a intenção de unir as duas facções e fortalecer sua posição, Henrique VII casou-se com a filha mais velha de Eduardo IV, Elizabeth de York, e fundiu as duas casas. O símbolo heráldico dos Tudor passou a ser uma rosa com as cores vermelha e branca, representando a união das casas de York e Lancaster.

 

A Rosa Vermelha de Lancaster é até hoje um dos símbolos heráldicos de Lancashire e sua imagem está quase sempre presente nos documentos oficiais de Great Harwood.

 

Durante os séculos XVI XVII, a região tornou-se conhecida por sua produção de lã e como reflexo desta grande oferta, vários teares manuais - na sua grande maioria familiares, estavam em atividade em Gt. Harwood.  Foi uma época de riqueza para a cidade.  Para termos uma idéia, em 1660, num total de 300 pessoas estimadas como sendo a população da cidade, 213 eram catalogadas como contribuintes de impostos.

 

Segundo o Dictionary of the Landed Gentry, de autoria de John Burke & John Bernard Burke, publicado na Londres de 1848, os Gibsons de Lancashire originam-se tradicionalmente de escoceses que vieram para Lancaster no tempo de James I, nos anos 1600. Alguns deles detiveram a posse de grandes propriedades a partir dessa época. Em diferentes períodos, ocuparam cargos de Sheriffs e estiveram ligados a antigas e distinguidas famílias. 

 

Com certeza esses Gibsons (pertencentes a nobreza rural) não têm nenhum parentesco próximo conosco, mas os nossos chegaram na mesma época, acompanhando-os, ou atraídos pelo desenvolvimento da Região.

 

Ao final do século XVII, os fios de algodão do Oriente Médio começaram a aparecer na Inglaterra, substituindo a lã. Tal acontecimento causou muitos danos à economia inglesa.  Medidas protecionistas começaram a ser tomadas e, em 1678, foi criada uma lei obrigando que todas mortalhas fossem confeccionadas com a lã das ovelhas e fixava uma multa de 5 libras para aquele que permitisse que, em sua propriedade, fosse sepultado alguém com outro tipo de mortalha.

Ao longo dos próximos cem anos, a tecelagem de lã foi, gradualmente, desaparecendo de Lancashire, mas o século XVIII ainda encontra Great Harwood como uma próspera Comunidade. Em 1718, sua população já era estimada em 700 pessoas. Nesta época, a Plod Tecelagem era uma especialidade da cidade que, em 1747, recebe uma visita importante: John Wesley, que prega em Great Harwood e converte algumas pessoas ao Metodismo. Uma das pessoas convertidas foi a mãe de John Mercer, uma das figuras mais importantes de Great Harwood.

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Tecelão em Great Harwood

 

 

A Familia Mercer tinha um cotonifício cuja força motriz era manual, localizado em Dean (GTH). John Mercer, químico, descobriu um processo, chamado "mercerização", que dava uma certa suavidade a tecidos grosseiros de algodão. Foi uma revolução na época. Na praça principal de GTH existe um memorial e a torre com o relógio, sendo ambas uma  homenagem ao filho ilustre.  

 

Bob Calvert nos informa que a primeira tecelagem movida a moinho d'água na cidade, foi construída por Lawrence Catterral. Sua irmã - Ann Catterall (nascida em 1799) foi casada com Thomas Gibson (1800 - 1874). Thomas era irmão de Henry Gibson (o barqueiro), cuja história está relatada no link "famílias tronco".  Thomas e seu filho James foram sacristãos na Igreja Paroquial e a sua filha Alice, casou com Daniel Calvert.

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Em 1770, Alexander Nowell enfrenta dificuldades financeiras, causadas supostamente por sua dispendiosa e nova mulher, e suas propriedades são oferecidas em leilão. O primeiro leilão é um fracasso, com poucas fazendas sendo arrematadas, mas na terceira tentativa, a Fazenda Mercer, localizada no centro da cidade foi comprada pela The Parish Church.

 

Os direitos ao Mercado e a Feira foram comprados por Sir Thomas Hesketh por 150 Libras e o restante das terras compradas por James Lomax, que era proprietário de terras e de minas de carvão em Clayton-les-Mours. Já era também arrendatário das terras dos Nowell em Great Harwood.

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Após 500 anos, encerrava-se a presença dos Nowells e dos Heskeths na cidade. Com eles também chega ao final a história da Great Harwood rural. Novos tempos para seus habitantes, incluindo os Gibson.

 

Foi nessa época que o pai de nosso Henry “quebra” e ele decide migrar para o Brasil.

 

Encerra-se também na história mundial a Idade Moderna e damos início a Idade Contemporânea. Entre os fatos mais importantes que definiram o início da Idade Contemporânea, cito a Revolução Francesa, a Independência Americana e a Revolução Industrial Inglesa, cujo berço principal foi a cidade de Manchester, próxima a Great Harwood,  Lancashire.

A Revolução Industrial colocou a Família Gibson no olho do furacão e nossos ancestrais escreveram uma rica história nesta fase de transição e mudanças. História, muitas vezes, trágica e que desperta solidariedade a nós, seus descendentes. Vale a pena ler na postagem Familia Gibson, a história de nossos avós contada por Bob Calvert.

 

Nosso primo Aluizio Gibson, em 2015, visitou Great Harwood:

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Estive lá em setembro de 1981. Consegui (com dificuldade) encontrar um Gibson. Melhor, o filho de uma Gibson. O jovem era Conselheiro Municipal (equivale a vereador no Brasil) pelo Labour Party. Muito simpático, nos ciceroneou pela Old GTH. Infelizmente perdi as fotos e o nome do “primo”. Posteriormente, soube por Bob Calvert e confirmado por Sonia Spencer (historiadora casada com um Gibson nosso parente) que os Gibson já não são mais habitantes de Great Harwood.

 

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A Great Harwood de Henry Gibson

 

Abaixo, algumas fotos antigas, com paisagens que com certeza foram familiares a Henry, extraidas do livro OLD HARWOOD.  O livro me foi presenteado por Bob Calvert.

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Na foto ao lado, de 1750, vemos uma residência que foi transformada em tecelagem.

As primeiras delas foram criadas por famílias numerosas e todos seus membros trabalhavam nessas indústrias familiares. Era uma forma rentável  de ocupar todos.

 

 

 

 

 

 

 

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Paisagens que certamente foram comuns para Henry

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Essa é a Igreja de São Bartholomeu em GTH. Foram nos seus arquivos que conseguimos a maioria das certidões (óbito, nascimento e casamento) com as quais construímos nossa árvore genealógica.