NABOR: nasci em 1951. No distante ano de 1951. Isto significa que entre outras coisas, cheguei a conhecer ex-escravos e também que, em Pernambuco, ouvi muitas histórias a respeito dessa época. Das histórias que ouvi, a mais interessante foi a de um africano chamado Nabor que pertenceu a minha trisavó paterna Francisca Adelaide do Rego Barros Gibson (Yayázinha). Nabor era masoquista, pessoa que sente prazer com a dor. Frequentemente ele se dirigia a Yayazinha, dizendo: “Sinhá, Nabor não apanhou hoje, sinhá! Sinhá..... Nabor quer apanhar, sinhá!”. Só sossegava quando era açoitado.
Quando criança, a qualquer travessura, ouviamos do papai: “Nabor quer apanhar? O espírito de Nabor baixou em você?” O aviso então estava dado.
Lembrando que o masoquismo é um quadro psiquiátrico, que ocorre indiferente da cor da pessoa e quase sempre com prazer sexual associado.
DONA RITINHA: Minha avó materna morava em Olinda Velha, em uma casa que pertenceu ao pai, Francis, e, que até senzala ainda tinha. E com ela uma senhora já idosa, chamada Rita. Ou melhor, dona Ritinha, como a chamávamos. Filha de escravos, foi beneficiada com a Lei do Ventre Livre mas isso pouco influiu em sua vida. Nasceu na nossa família e conosco ficou até morrer. Foi babá de minha mãe, de meus tios e até mesmo de alguns primos meus. Era querida e respeitada como familiar.
Por minha avó paterna, Aline, sou descendente de uma escrava índia, que engravidou de um adolescente da família paraibana, a quem ela estava vinculada. Esse meu avô, Antônio Borges da Fonseca, recebeu o sobrenome e foi educado no Seminário de Olinda, o melhor educandário da época. Jornalista e republicano, faz parte da história do Brasil e tenho muito orgulho dele.
Em Pernambuco se diz que qualquer estudo genealógico sobre uma família antiga, se esbarra ou num padre, ou numa mucama. Verdade.
Citei essas histórias, todas ligadas à minha família, mas omiti muitas. Algumas até trágicas e que merecem o esquecimento. Foi um período complicado na história do País mas que não pode ser esquecido. E concordo com a necessidade da reparação/compensação aos seus descendentes.
Fiz essa introdução para contar a melhor de todas as histórias de escravos que conheço. Vamos falar agora de uma mestiça bonita e elegante, cuja foto está em anexo, a DELFINA DA CONCEIÇÃO.
Quando comecei a escrever o site familiagibson.com.br, recebi ajuda de vários parentes e como ainda não existiam as redes sociais de agora, conversavamos através de e-mails e sempre com cópias para todos os envolvidos no Projeto.
Delfina
Maria Adelaide
Sarah Maybury
Certo dia a Sara Maybury me manda a foto da Delfina e me conta a seguinte história: quando o casal Edward Fox & Maria Adelaide foram definitivamente para a Inglaterra (1858), junto com os filhos pernambucanos, resolveram levar uma escrava a qual eram afeiçoados, a Delfina. Entre brasileiros e ingleses, o casal teve 13 filhos. Isso significa que Mr. Fox devia ser extremamente amoroso, e, que Maria Adelaide vivia constantemente, ou grávida, ou amamentando.
Como em 1858 a Inglaterra já não aceitava a escravidão, a Delfina declarou ao entrar em solo inglês, a profissão de enfermeira. Uma mulher livre.
Acredito ter sido ela, a ama de leite dos filhos do casal, já que Maria Adelaide casou aos 15 anos, como convinha a todas as sinhazinhas da época e também porque Edward Fox já estava cansado de esperar.
Só que existia um mistério que perdurava até aquela data para os Fox: apesar de muito bem tratada pela família e com uma relação afetiva principalmente entre ela e os filhos do casal, belo dia a Delfina sumiu. Evaporou! Foi-se sem despedir, sem explicações e ninguém dava informações sobre seu paradeiro!
A família nunca entendeu o que aconteceu.
Após 150 anos de mistério, a resposta chegou, vinda de nossa prima Luciana Fellows que acompanhava os e-mails: a Delfina voltou da Inglaterra e morou com os avós Oliveiras da Luciana até morrer. Morou na casa onde é hoje o Museu do Estado de Pernambuco. Mas, disse Luciana, Delfina voltou grávida!
Quequé isso???? Grávida??? Cruzes!!!! Tem certeza Luciana? Sim. Tinha certeza!
Foi mãe de uma garota linda que já nasceu falando inglês. Como bem dizia Mr. Fox, sangue não vira água!
Agora ficou difícil de entender. O enigma aumentou:
1. Quem foi o artista?
2. Porque Delfina não ficou, mesmo grávida, com os Fox?
3. Quem custeou as despesas de retorno da Delfina e porque o fez?
4. Porque ela não explicou a situação a Maria Adelaide e não se despediu dos Fox e das crianças, dos quais deveria ser muito ligada? Não quis, ou não pôde explicar a gravidez?
5. Como Delfina conseguiu engravidar naquela Inglaterra, tão pudica e em plena era Vitoriana, se ela mal devia sair de casa? Estamos falando de 1865, ou antes.
Não tenho as respostas. Os filhos varões do casal ainda eram crianças e estão afastados do rol de suspeitos. Não sei o que pensar.....
Sempre que passo frente ao Museu do Estado de Pernambuco imagino a garotinha, filha da Delfina, brincando naqueles belos jardins e certamente fazendo peraltices pela Mansão. Gostaria de saber se ela foi considerada escrava ou não, já que deve ter voltado antes da Lei Àurea, se ela casou, quem foram seus descendentes, etc.... Como a Delfina já era mestiça, sua filha certamente era ainda mais clara que ela. Provavelmente uma morena muito bonita. Quiça dona de belos olhos azuis....
Caso algum dos primos que nos lê, souber explicar algo, faça-nos o favor de falar.
E completando: caso alguém queira me contar como segredo, não o faça, pois não tenho compromisso nem com os meus.
Caso você queira contribuir com nosso trabalho, com outras informações, fotos ou documentos que possam enriquecer esta postagem, pedimos que entre em contato com familliagibson@gmail.com Todos agradecemos